Um
jovem discípulo chegou até seu mestre que pescava a beira do lago e
disse:
—
Mestre, vejo que estás num momento de repouso e não queria incomodá-lo, mas estou
enfrentando alguns problemas deveras sérios. Preciso muito de seus conselhos.
O
mestre olhou para ele por um tempo longo demais, a ponto de provocar no jovem
certo constrangimento.
Fez
um sinal para sentar-se ao seu lado. Um peixe beliscou a isca e escapou. Com
olhar fixo na água o velho lembrava-se, de quando, num passado distante, ele levara a mesma questão a um antigo mestre que já se fora.
O
céu de um azul intenso e brilhante, refletido nas águas plácidas do lago,
catalisava em sua memória, aquele momento que ele considerava seu “ponto mágico
de mutação”.
Um
momento, num passado distante, quando uma simples pergunta, respondida de forma
sóbria e econômica levantara por breve fração de segundo o véu que encobria
todos os mistérios da vida.
—
Responda-me, meu jovem, sem pensar nem pestanejar, de forma sóbria e sincera,
como você define a vida?
O
jovem respondeu num impulso.
—
A vida é um campo de batalha.
— Muito
bem. Agora me conte seus problemas e verei como ajudar a resolvê-los.
O
jovem começou:
—
Tudo na minha vida está dando errado. Parece que o Universo conspira contra
mim. Tudo que tento fracassa.
Aquele
rosário de reclamações prosperou por longos minutos, quando o velho de olhos
fixos na água só escutava. Quando o jovem esgotou seu repertório de palavras
negativas o mestre disse a ele.
—
Agora fique com os olhos fixos no movimento calmo das águas e no reflexo do céu
e me ouça. Mas tente manter sua razão desligada. Ouça apenas com a voz do
coração. Deixe enquanto isto de lado suas certezas e crenças. Como você disse
“a vida é um campo de batalha”. Num campo de batalha você é um guerreiro entre
guerreiros e armas, parceiros e inimigos. Resta a você guerrear.
Ai
está a fonte de todos os seus problemas. Seus inimigos querem matá-lo, seus
parceiros estão tentando salvar a própria vida. Não há como nada dar certo
neste cenário.
Precisa
entender que a resposta a esta pergunta primordial sobre “o que é a vida”, a
partir de nossos padrões de crenças dispara automaticamente nossos modelos de
ação.
Se
você responde que a vida é um parque de diversões isto resultará num modelo de
ação baseado em brincadeiras e folguedos. Já se a vida é um cassino o jogo e o
risco será a ação mais natural. Por outro lado se a vida é um acidente astrológico
ela será marcada por um movimento de ondas que você não poderá interferi e
fazer escolhas. Nossas crenças são como bagagens e tranqueiras que nem sempre
servem aos nossos propósitos e objetivos.
Você
pode mudar sua vida mudando suas respostas para as perguntas de sempre. Mas não
as mudando da boca pra fora, mas com intenção e desejo ardente.
O
Universo é como o gênio da lâmpada e vai realizar todos os seus desejos
sinceros. Uma resposta de qualidade àquela pergunta inicial pode bem ser que a
vida é uma escola, um campo de aprendizado e evolução, porque a partir desta
resposta a ação natural vai ser aprender e evoluir.
Para
o aprendiz errar é parte do aprendizado, que leva dentro de um processo natural
a produzir acertos. Ninguém cobra de um aprendiz que ele acerte de pronto, mas
que repita a lição ate ficar exímio na arte de acertar.
E
agora eu te repito a pergunta: como você define a vida?
O
jovem, com expressão calma e olhar brilhante apenas disse:
—
Obrigado mestre. Aprendi a lição.
João Drummond
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