1 de abr. de 2020

Debates Políticos/Ideológicos Em Familia São Produtivos e Saudáveis?


Algumas pessoas vão se lembrar quando, em um debate no Roda Viva, uma reporter, (Tati Bernadi), colocou uma questão a treis filósofos/pensadores brasileiros, (Mario Sergio Cortella, Leandro Karnal e Luiz Felipe Pondé sobre como ela poderia perdoar o pai por ter votado num candidato que ela repudiava radicalmente.

O tema era exatamente sobre um livro publicado a treis mãos que versa sobre o perdão.

As respostas dos treis convergiram em tese para uma direção:
1 – O perdão é um ato pessoal e de natureza intima.
2 – Não é possível se cobrar perdão de uma pessoa que não acredita ter ofendido alguém.
3 – Aquela pessoa a quem se cobrava perdão poderia estar pensando a mesma coisa, qual seja como perdoar aquele familiar que votou em um candidato que ela mesma rejeitava.
A sociedade brasileira se radicalizou de alguns anos para cá em questões político/ideológicas e esta divisão atingiu em cheio o seio das famílias.
A pergunta pertinente é: Seria produtivo e saudavel o debate de temas polêmicos no ambiente familiar? Comecei a me fazer esta pergunta de forma mais incisiva depois de uma experiência pessoal e familiar.
A conclusão que cheguei é que estas rusgas são desagregadoras e improdutivas, não mudam as opiniões das pessoas e criam ambientes de animosidade e ressentimentos difíceis de serem superados.
Depois de alguns fins de semanas que poderiam ter sido salutares e que foram destruídos por opiniões radicalizadas, propus uma regra simples em familia, qual seja que nós evitássemos debates e provocações sobre temas polêmicos quando em reuniões familiares.
O resultado foi que aquelas reuniões se tornaram mais agradáveis e salutares na medida que as armas foram sendo baixadas e os cantos de guerra cederam lugar a debates mais racionais e equilibrados.
O que eu acredito é que as pessoas podem e devem ter, como cidadãos opiniões políticas e ideológicas e expressar isto claramente em redes sociais, mas preservar os grupos familiares destes debates por um bem maior que é a harmonia e a boa convivência familiar.
Não se trata aí de se tornar hipócrita ou falso no trato com as pessoas, mas sim de nos valermos de uma conduta mais moderada e madura que admite colher no seio do grupo o espaço de tolerância à crenças e opiniões diferentes, sem esta radicalização que é destrutiva do tecido social.
Os grupos de wattsapp se tornaram extensão dos ambientes familiares já que podem ser restritos e com propósitos pré-definidos.
É claro que não se pode também querer suprimir das pessoas o direito de se expressarem e desabafarem nestes ambientes virtuais já que eles encurtam distancias e podem aproximar as pessoas de forma instantânea.
O problema é quando estes grupos estão dominados por conselhos de famílias dominantes que se expressam de qualquer forma, sem os devidos cuidados na linguagem adjetivando pessoas e grupos que pensam diferente, de forma grosseira e radical.
Estes grupos acabam por se tornar num poço de negatividade e ressentimentos que em nada contribuem para o estado de ânimo de pessoas que precisam acreditar e trabalhar por uma realidade futura de melhor qualidade.
Esta realidade se nos impõe com toda a força em nosso cotidiano. É diante desta realidade que precisamos encontrar meios e forças para trabalhar, estudar, usar de nossos talentos numa construção coletiva, imperfeita e sempre inacabada que chamamos futuro.
Uma solução para a preservação destes grupos familiares de wattsapp seria talvez a formação de subgrupos de pessoas que comungam ideias e pensamentos parecidos, que podem continuar se retroalimentando sem contaminar o grupo principal.
A verdade é que estamos vendo pessoas que conviveram juntas uma vida inteira, passarem a se estranhar e desconfiar entre si, como se fossem membros de tribos antagônicas sempre preparadas para uma guerra iminente.
Só que agora o inimigo é comum a todos nós e muito mais perigoso do que opiniões contrarias.
                                                                     João Drummond