Algumas pessoas vão se lembrar quando, em um debate no Roda Viva, uma reporter,
(Tati Bernadi), colocou uma questão a treis filósofos/pensadores brasileiros, (Mario Sergio
Cortella, Leandro Karnal e Luiz Felipe Pondé sobre como
ela poderia perdoar o pai por ter votado num candidato que ela repudiava
radicalmente.
O tema era exatamente sobre um livro publicado a treis mãos que versa sobre
o perdão.
As respostas dos treis convergiram em
tese para uma direção:
1 – O perdão é um ato pessoal e de natureza intima.
2 – Não é possível se cobrar perdão
de uma pessoa que não acredita ter ofendido alguém.
3 – Aquela pessoa a quem se cobrava
perdão poderia estar pensando a mesma coisa, qual seja como perdoar aquele familiar
que votou em um candidato que ela mesma rejeitava.
A sociedade brasileira se radicalizou
de alguns anos para cá em questões político/ideológicas e esta divisão atingiu
em cheio o seio das famílias.
A pergunta pertinente é: Seria
produtivo e saudavel o debate de temas polêmicos no ambiente familiar? Comecei
a me fazer esta pergunta de forma mais incisiva depois de uma experiência pessoal
e familiar.
A conclusão que cheguei é que estas
rusgas são desagregadoras e improdutivas, não mudam as opiniões das pessoas e
criam ambientes de animosidade e ressentimentos difíceis de serem superados.
Depois de alguns fins de semanas que
poderiam ter sido salutares e que foram destruídos por opiniões radicalizadas,
propus uma regra simples em familia, qual seja que nós evitássemos debates e provocações
sobre temas polêmicos quando em reuniões familiares.
O resultado foi que aquelas reuniões
se tornaram mais agradáveis e salutares na medida que as armas foram sendo
baixadas e os cantos de guerra cederam lugar a debates mais racionais e
equilibrados.
O que eu acredito é que as pessoas
podem e devem ter, como cidadãos opiniões políticas e ideológicas e expressar
isto claramente em redes sociais, mas preservar os grupos familiares destes
debates por um bem maior que é a harmonia e a boa convivência familiar.
Não se trata aí de se tornar hipócrita
ou falso no trato com as pessoas, mas sim de nos valermos de uma conduta mais
moderada e madura que admite colher no seio do grupo o espaço de tolerância à
crenças e opiniões diferentes, sem esta radicalização que é destrutiva do
tecido social.
Os grupos de wattsapp se tornaram extensão
dos ambientes familiares já que podem ser restritos e com propósitos pré-definidos.
É claro que não se pode também querer
suprimir das pessoas o direito de se expressarem e desabafarem nestes ambientes
virtuais já que eles encurtam distancias e podem aproximar as pessoas de forma instantânea.
O problema é quando estes grupos
estão dominados por conselhos de famílias dominantes que se expressam de
qualquer forma, sem os devidos cuidados na linguagem adjetivando pessoas e
grupos que pensam diferente, de forma grosseira e radical.
Estes grupos acabam por se tornar num
poço de negatividade e ressentimentos que em nada contribuem para o estado de ânimo
de pessoas que precisam acreditar e trabalhar por uma realidade futura de
melhor qualidade.
Esta realidade se nos impõe com toda
a força em nosso cotidiano. É diante desta realidade que precisamos encontrar
meios e forças para trabalhar, estudar, usar de nossos talentos numa construção
coletiva, imperfeita e sempre inacabada que chamamos futuro.
Uma solução para a preservação destes
grupos familiares de wattsapp seria talvez a formação de subgrupos de pessoas
que comungam ideias e pensamentos parecidos, que podem continuar se retroalimentando
sem contaminar o grupo principal.
A verdade é que estamos vendo pessoas
que conviveram juntas uma vida inteira, passarem a se estranhar e desconfiar
entre si, como se fossem membros de tribos antagônicas sempre preparadas para
uma guerra iminente.
Só que agora o inimigo é comum a
todos nós e muito mais perigoso do que opiniões contrarias.
João
Drummond