Esta foi a resposta que ouvi, vinda do fundo da sala de aula, quando perguntei a uma turma de segundo grau, no inicio de um simpósio sobre o tema: O que é e pra que serve a literatura?
Risos
e sussurros quebraram o silencio inicial, todos se voltando para trás, tentando
localizar o aluno que tivera aquela ousadia, (ou será atrevimento?).
O
autor não se revelava, aparentemente adotando o mesmo comportamento dos
colegas, talvez com o intuito passar desapercebido, ou mesmo continuando, para
deleite de amigos próximos, uma ação dissimulada que dava seqüência a sua
debochada resposta.
Resolvi
aproveitar a oportunidade e entrar no jogo.
─
Quem disse isto está corretíssimo e merece nossos aplausos. Como não sabemos
quem é vamos aplaudir ao autor desconhecido da frase: “literatura não serve
pra nada”.
Meus
aplausos foram seguidos com certa reserva por uns poucos alunos, e os risinhos
e comentários davam a entender que a maioria via ali uma atitude irônica da
minha parte.
Uma
aluna, sentada mais a frente questionou:
─
Você não esta falando serio, não é?
─
Claro que estou. Vivemos um regime de plena liberdade de pensamento e opinião e
quem disse aquilo simplesmente expressou a sua, por um motivo que é também
exclusivamente seu. Foi uma resposta direta que merece ser respeitada e pode
servir para começarmos nossos trabalhos. Alguém mais aqui tem uma opinião sobre
o tema que reflita seu sentimento em relação a ele? Não precisam se policiar
nesta tarefa. Digam o que lhes vem na mente.
Propus
a turma uma dinâmica. Passaríamos os próximos quinze minutos colhendo
definições sobre “o que é e pra que serve a literatura” sendo que alguns alunos
se encarregariam de passar para o papel aquelas respostas.
As
primeiras repostas foram próximas às definições clássicas e formais.
“Literatura
é a cultura das letras”, “literatura e tudo que tem haver com escrita e
leitura”, “é a arte e a ciência das letras”.
Eu
desafiei a turma:
─
Vocês estão muito comportados. Digam sinceramente o que pensam sobre o tema.
Uma
aluna se arriscou:
─
Que saber, eu leio por que sou obrigada. Prefiro muito mais um filme.
─
Ótimo, (estimulei).
A
partir daí as resposta começaram a se tornar espontâneas e a revelar um
sentimento negativo que aqueles alunos tinham sobre alguma coisa que eles
identificavam como “literatura”.
“Literatura
é um negocio muito chato, literatura é um saco, literatura é uma cultura
inútil, quem gosta de literatura é velho” etc.
Após
aquela catarse coletiva os alunos se tornaram menos desconfiados e mais dispostos
a ouvir. Pude começar minha palestra.
─
Muito bem, a literatura serve dentre outras coisas para isto: expressar nossa
desaprovação, nossa indignação contra qualquer coisa.
Com
as palavras e as letras podemos mudar a realidade, contribuir para a construção
de um mundo melhor, fazer nossas revoluções.
A
leitura trabalha ao mesmo tempo nossa lógica e nossas emoções. Podemos através
dela, viajar na maionese, mergulhar em mundos imaginários, viver nossos sonhos
e quem sabe correr atrás deles.
A
leitura, e a reflexão trabalham os processos cognitivos, ou seja aumentam nossa
sabedoria diante da vida, e nossa capacidade de nos adaptarmos e mesmo mudarmos
uma realidade indesejável.
A
leitura pode ser considerada uma ginástica cerebral poderosa, na medida em que
atua na nossa formatação neurolinguistica como nenhum outro processo é capaz de
fazer.
Assim
como a principio rejeitamos alguns alimentos em detrimentos de outros “mais
gostosos”, mas que com o tempo aprendemos a apreciar, também vamos aprender que
a leitura é como um alimento de qualidade do espírito e da consciência.
Uma
coisa não exclui a outra. Podemos ver bons filmes, teatros, musicas, mas
devemos também nos esforçar pelo habito da leitura e da escrita, pelo bem nossa
saúde mental, psíquica e espiritual e pelo bem do nosso futuro.
Com
a leitura aprendemos a sonhar nossos sonhos, e não apenas viver os sonhos de
outros.
A
literatura enfim serve para muita coisa e até mesmo para nada. Vai depender é
claro, das escolhas que fazemos no dia a dia, e da nossa capacidade de sonhar e
construir nossos sonhos.
Como
mensagem final, deixo a vocês a minha opinião pessoal sobre o habito da
leitura, da reflexão e da escrita:
Com
a leitura e a reflexão podemos construir como convicção e colocar a nosso
serviço a força mais poderosa e transformadora que existe no mundo, que é a fé.
Não uma fé induzida, mas uma fé inteligente, questionadora.
A
fé em vocês, nos seus talentos e Numa Força Maior que impregna o Universo, seja
lá qual nome vocês dêem a Ela. A única força capaz mover todas as montanhas.
Sejam físicas ou imaginarias.
Saudações cordiais!
ResponderExcluirEm tempos nos quais poucos têm o hábito da leitura, daí provindo o mal escrever, indico a leitura deste texto, pois se presta inclusive, para pensar-se a respeito do mesmo no contexto atual.
A leitura pode trazer informação e conhecimento, que podem conduzir até mesmo à sabedoria.
Mirna Cavalcanti de Albuquerque.