Ou - E Wellington Ficou Famoso
O massacre de Realengo aconteceu como um fato novo e inusitado no Brasil. Algo tão inesperado de repente tomou forma na nossa realidade cotidiana, como um fato que não cabe na compreensão coletiva e deve ser engolido ou digerido, enquanto cuidamos da nossa rotina e dos afazeres banais.
Nossa sociedade se viu perplexa, apalermada diante de uma situação tão surreal. Num primeiro momento não acreditamos. Devia haver algum engano. Depois quando os fatos falaram por si, houve o tempo de compasso de espera para que nosso estômago emocional digerisse o elefante que foi empurrado pela nossa goela abaixo.
A imprensa sensacionalista se valeu a vontade dos velhos bordões. Referiram-se ao fato como monstruosidade. Nomearam o protagonista de todos os adjetivos que encontraram em seu parco dicionário.
O problema é que este quebra-cabeça continua sem se fechar. Nada faz sentido. Os xingamentos, e o linchamento da imagem do tal de Wellington na mídia servem como válvula de escape de baixa qualidade, mas nem de perto resolvem o problema.
Fica a impressão que todos nós como sociedade estamos fazendo algo tão errado que somos capazes de gerar estas monstruosidades e nos surpreendermos quando elas vêm à tona.
Fica a duvida; Quantos Wellingtons existem por ai, andando por nossas ruas, conspirando com seu ódio contido, seus insanos delírios, para o momento mágico da vingança.
Quantos homicidas e suicidas caminham a esmo, buscando os meios e as oportunidades de conseguir seus minutos de fama, numa sociedade que se corrompeu e se consome com seus vícios e banalidades.
Se este era um dos efeitos colaterais da sociedade capitalista e mundana, bem sucedida, o Brasil finalmente chegou ao topo.
Quantas famílias se degradam nesta engrenagem desumana que privilegia a esperteza e o sucesso a qualquer preço, quando “aparecer” e “ter” é mais importante do que “ser”.
Os rios de dinheiro que irrigam os sistemas financeiros e alimentam a corrupção, não deixam veios para alimentar a educação e a cultura de uma sociedade que caminha entre a mediocridade a imbecilidade.
Construímos os loucos e depois não sabemos como lidar com eles. E estes loucos andam sorrateiros dentro das engrenagens psíquicas de cada um de nós, que apontamos um dedo acusador contra o espelho da natureza humana/mutante. Mutantes que geramos, numa sociedade pobre de valores humanos autênticos e perenes.
Wellington mostra que todos nós erramos nas nossas escolhas do dia a dia, e saber lidar com nosso Wellington interior é nossa sina e pena máxima.
Onde e quando ele mostrará de novo sua face perversa?
João Drummond
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