RIO
- O mercado editorial vive de uma conta que não fecha, "simplesmente
porque há mais oferta do que demanda". A constatação já acompanha há muito
tempo Julio Silveira, que foi co-fundador da Casa da Palavra e coordenador da
Agir/Nova Fronteira e da Thomas Nelson.
Agora
à frente de sua própria editora, a Ímã, ele tenta fechar a conta com um novo
projeto, o Motor. O selo, que prevê livros sob demanda, será lançado nesta
terça, a partir das 19h, no Espaço Cultural Gabinete, na Lapa.
O
Motor sai com quatro títulos, tanto em versão impressa quanto em e-book. São
livros de jovens autores desconhecidos ou conhecidos apenas em pequenos
circuitos — está aí um nicho que Silveira pretende atender, o de autores que
mal conseguem chegar ao balcão de grandes e médias editoras.
Tiragem
de 50 exemplares
No
evento de hoje serão lançados "Dentro doida", livro de contos da
jornalista Carol Pimentel, com prefácio de Xico Sá; "Sutilezas",
também de contos, de Vera Rocha, sobre encontros e desencontros entre homens e
mulheres; "Tertúlia", textos de um coletivo de oito escritores que se
reúnem desde 2009 para discutir os prazeres da literatura e da amizade, e
"SE7E [cruz]", em que sete autores assinam contos ficcionais a partir
das sete frases ditas por Jesus no calvário.
—
Com o Motor, tento dar uma lógica econômica a um produto que sempre foi muito
difícil: literatura. E mais ainda: literatura brasileira e nova. São coisas das
quais as editoras fogem. É muito difícil um autor novo ser publicado — afirma
Silveira.
Cada
título do Motor tem tiragem pequena, de 50 exemplares, parte da estratégia para
evitar o encalhe e o gasto com impressões grandiosas. Diferentemente do que
ocorre com publicações em geral, as livrarias devem receber apenas um livro
como referência para a venda. A idéia é driblar a consignação a livreiros, que
encarece o produto final.
—
Numa editora tradicional, por exemplo, você imprime 3.000 livros e até vender,
digamos, 2.000, estava apenas cobrindo seus custos. Você começar a ter lucro
depois de vender 2.000 exemplares. Com o livro impresso sob demanda, isso não
existe. Teoricamente, descartando gastos editoriais, no primeiro livro vendido
já existe um componente de lucro.
Reduzir
a tiragem é caminhar no sentido oposto ao do inflado mercado editorial — no
Brasil, por mês, são lançados 3.500 novos livros, segundo a Biblioteca
Nacional, órgão responsável por registrar os lançamentos no país.
—
As pessoas não consomem tantos livros assim, as editoras têm que fazer mais
títulos para ter mais ofertas e mais chances de acertar. Só que tudo isso (a
impressão em grandes quantidades para fazer consignações e a distribuição)
acaba fazendo com que os livros fiquem mais caros e difíceis de vender —
analisa o Publisher.
O
Motor deve lançar dez autores por mês, sempre com tiragem de 50 exemplares, ou
seja, sem estoque, e com reimpressões sob demanda. Outra das propostas é dar
mais poder ao autor — no Motor, ele é responsável por ajudar na venda dos
títulos e, por outro lado, recebe 50% do lucro líquido calculado sobre o valor
de capa (R$ 29,90, no livro físico, e R$ 9,90, no caso do e-book). Segundo
Silveira, as editoras costumam repassar ao autor apenas 10%.
—
Não faz mais sentido a coisa dos 10%. No Motor, é uma parceria em iguais
condições: tenho know-how, tenho ferramentas, e o autor tem o conteúdo e a vida
social dele, na qual vai vender o livro. Divido com ele a receita líquida. No
caso do e-book, não tem custo gráfico. No caso do livro impresso, tem custo
gráfico linear. Divido com ele a mesma receita — explica.
Balão
de ensaio
Para
o autor, o Motor seria uma espécie de via do meio: de um lado, segundo
Silveira, estão as grandes editoras e as filas que autores devem esperar para
ter seus manuscritos lidos; do outro, está o selfpublishing, em que o autor
consegue imprimir seu livro, sem a necessidade de um editor (mas, também, sem
nenhum tipo de orientação de edição).
—
A editora era a empresa que tinha capital para custear o processo editorial,
bancar a tiragem e distribuir. Era um investidor, quem tinha, além de know-how,
dinheiro para bancar. Com o digital, não é preciso tantos recursos. Eu, você e
uma editora temos as mesmas condições de colocar um livro à venda na Amazon,
por exemplo.
Os
livros do Motor, aliás, serão vendidos nos sites da Amazon, da editora Ímã e de
livrarias do Brasil. Ao comprar um exemplar, o leitor tem direito ao
"upgrade" da obra — com a tiragem reduzida e a consequente facilidade
de reimpressões, o livro será constantemente revisto pelo autor e por
revisores. No "balão de ensaio do selo Motor", como define o
publisher, o livro é "uma obra viva e em constante transformação".
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