8 de fev. de 2012

Editora cria selo para autores jovens com livros sob demanda


RIO - O mercado editorial vive de uma conta que não fecha, "simplesmente porque há mais oferta do que demanda". A constatação já acompanha há muito tempo Julio Silveira, que foi co-fundador da Casa da Palavra e coordenador da Agir/Nova Fronteira e da Thomas Nelson.
Agora à frente de sua própria editora, a Ímã, ele tenta fechar a conta com um novo projeto, o Motor. O selo, que prevê livros sob demanda, será lançado nesta terça, a partir das 19h, no Espaço Cultural Gabinete, na Lapa.
O Motor sai com quatro títulos, tanto em versão impressa quanto em e-book. São livros de jovens autores desconhecidos ou conhecidos apenas em pequenos circuitos — está aí um nicho que Silveira pretende atender, o de autores que mal conseguem chegar ao balcão de grandes e médias editoras.

Tiragem de 50 exemplares

No evento de hoje serão lançados "Dentro doida", livro de contos da jornalista Carol Pimentel, com prefácio de Xico Sá; "Sutilezas", também de contos, de Vera Rocha, sobre encontros e desencontros entre homens e mulheres; "Tertúlia", textos de um coletivo de oito escritores que se reúnem desde 2009 para discutir os prazeres da literatura e da amizade, e "SE7E [cruz]", em que sete autores assinam contos ficcionais a partir das sete frases ditas por Jesus no calvário.
— Com o Motor, tento dar uma lógica econômica a um produto que sempre foi muito difícil: literatura. E mais ainda: literatura brasileira e nova. São coisas das quais as editoras fogem. É muito difícil um autor novo ser publicado — afirma Silveira.
Cada título do Motor tem tiragem pequena, de 50 exemplares, parte da estratégia para evitar o encalhe e o gasto com impressões grandiosas. Diferentemente do que ocorre com publicações em geral, as livrarias devem receber apenas um livro como referência para a venda. A idéia é driblar a consignação a livreiros, que encarece o produto final.
— Numa editora tradicional, por exemplo, você imprime 3.000 livros e até vender, digamos, 2.000, estava apenas cobrindo seus custos. Você começar a ter lucro depois de vender 2.000 exemplares. Com o livro impresso sob demanda, isso não existe. Teoricamente, descartando gastos editoriais, no primeiro livro vendido já existe um componente de lucro.
Reduzir a tiragem é caminhar no sentido oposto ao do inflado mercado editorial — no Brasil, por mês, são lançados 3.500 novos livros, segundo a Biblioteca Nacional, órgão responsável por registrar os lançamentos no país.
— As pessoas não consomem tantos livros assim, as editoras têm que fazer mais títulos para ter mais ofertas e mais chances de acertar. Só que tudo isso (a impressão em grandes quantidades para fazer consignações e a distribuição) acaba fazendo com que os livros fiquem mais caros e difíceis de vender — analisa o Publisher.
O Motor deve lançar dez autores por mês, sempre com tiragem de 50 exemplares, ou seja, sem estoque, e com reimpressões sob demanda. Outra das propostas é dar mais poder ao autor — no Motor, ele é responsável por ajudar na venda dos títulos e, por outro lado, recebe 50% do lucro líquido calculado sobre o valor de capa (R$ 29,90, no livro físico, e R$ 9,90, no caso do e-book). Segundo Silveira, as editoras costumam repassar ao autor apenas 10%.
— Não faz mais sentido a coisa dos 10%. No Motor, é uma parceria em iguais condições: tenho know-how, tenho ferramentas, e o autor tem o conteúdo e a vida social dele, na qual vai vender o livro. Divido com ele a receita líquida. No caso do e-book, não tem custo gráfico. No caso do livro impresso, tem custo gráfico linear. Divido com ele a mesma receita — explica.

Balão de ensaio

Para o autor, o Motor seria uma espécie de via do meio: de um lado, segundo Silveira, estão as grandes editoras e as filas que autores devem esperar para ter seus manuscritos lidos; do outro, está o selfpublishing, em que o autor consegue imprimir seu livro, sem a necessidade de um editor (mas, também, sem nenhum tipo de orientação de edição).
— A editora era a empresa que tinha capital para custear o processo editorial, bancar a tiragem e distribuir. Era um investidor, quem tinha, além de know-how, dinheiro para bancar. Com o digital, não é preciso tantos recursos. Eu, você e uma editora temos as mesmas condições de colocar um livro à venda na Amazon, por exemplo.
Os livros do Motor, aliás, serão vendidos nos sites da Amazon, da editora Ímã e de livrarias do Brasil. Ao comprar um exemplar, o leitor tem direito ao "upgrade" da obra — com a tiragem reduzida e a consequente facilidade de reimpressões, o livro será constantemente revisto pelo autor e por revisores. No "balão de ensaio do selo Motor", como define o publisher, o livro é "uma obra viva e em constante transformação".


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