Hoje em dia, fala-se muito em empresas
auto-sustentáveis, projetos auto-sustentáveis, sustentabilidade econômica, etc.
Será que é possível se produzir filhos auto-sustentáveis?
Outro dia fui aconselhar a um jovem parente, habituado
a pedir uma grana emprestada “pra pagar na próxima semana”, sobre a importância
de se preparar para o futuro, poupar, viver dentro de sua realidade, gastar
menos do que se ganha, e outros conceitos que as mais básicas noções de
economia e do bom senso recomendam para se viver bem e prosperar em um projeto
de vida.
Sabe o que pirralho me disse?
— Se liga véio. Você está por fora. Isto era na sua
época. Agora a coisa mudou.
Fingi que não ouvi, e para evitar um conflito
desgastante dentro da família preferi contar até mil e deixar a resposta para
uma ocasião mais apropriada. Passei a matutar sobre o tema.
Devo mesmo estar ficando velho, e não véio, como fui
taxado assim de pronto. Sabemos que esta expressão não tem nada a ver com a
idade. Todo mundo é véio para esta nova, “iluminada” e folgada geração.
Já perceberam como sabem de tudo sem ler quase nada, e
que tem as mesmas respostas prontas para as mais variadas situações?
Muitos ficam até a idade adulta sem trabalhar, só
estudando. Repetem ou mudam de cursos como se troca de camisa, por que alguém
disse que tal profissão já era, e aquela outra é mais da hora.
Tudo bem que precisem se preparar para seu brilhante
futuro, para pegar um diploma e um cargo importante, de preferência que se
trabalhe pouco e se ganhe muito.
O problema é que ficam na frente de computadores por
horas, vendo as ultimas do Youtube, depois navegam despreocupadamente pelo
Twitter, Facebook e Orkut.
Conferem os e-mails e antes de saírem para faculdade
pesquisam um tema, no Google, passado pelo professor como trabalho de casa,
copiam o artigo mais legal, tomam um lanche reforçado, (nem se dão ao trabalho
de lavar o copo e o prato).
Para finalizar dão aquele trato no visual, e se mandam
em busca do sonhado diploma, com a certeza absoluta de que fizeram um grande
esforço para aprender.
Não se ligam nem por um momento que o computador e a
internet têm seus custos, que a luz e a água têm que ser pagas todo santo mês,
que as roupas de grife, e mesmo as de brechós tem seu valor monetário.
Não se dão conta que o lanche tem seu preço, que o
lotação tem um custo diário (ida e volta) ou que o carro e a gasolina que “pegaram
emprestado rapidinho”, valem umas boas horas de trabalho para serem pagos.
Alguns mais abusados têm o descaramento de pedir, alem
do carro, uma grana para levar “aquela gata” ao motel depois das aulas.
Se você fala com eles sobre direitos, deveres e
economia é taxado de mesquinho, sovina, ultrapassado. Não adianta explicar que
as lições da boa economia estão a sua volta no dia a dia, e que o estudo,
conquanto importante só vai valer de verdade se colocado em pratica neste mesmo
dia a dia.
O diploma é importante, mas mais importante é a
maturidade que nos permite compartilhar e dividir, viver em coletividade, colocar
nossos talentos à serviço, saber respeitar os limites que a boa convivência
determina.
Um diploma não trabalha sozinho. Tem que ser portado
por um bom profissional e pelo ser humano que cresceu e amadureceu de verdade,
sobrepujando seus egos infantis e adolescentes, para eclodir num cidadão capaz e
talentoso para num primeiro momento se tornar auto-sustentável e a seguir
produzir pelo bem comum.
A outra opção de quem não se lança neste desafio do
crescimento pessoal é a possibilidade de se tornar em mais um parasita social.
Caminhar por ai dando seus jeitinhos, se enganando e
enganando aos outros, até que a sarjeta os acolha, e aquela promessa de vida
termine seus dias a rastejar como um incapaz e a sobreviver da caridade alheia.
Senão o pior, em ações viciadas e degradantes.
No fim concluímos que uma boa parcela de
responsabilidade ao se gerar cidadãos entre produtivos e parasitas cabe ao
educador.
O modelo de educação que devemos aplicar aos nossos
filhos deve ser firme e consciente ou frouxo e omisso? Eis aí um dos grandes dilemas destes novos e
difíceis tempos.
João Drummond