21 de nov. de 2015

Adeus Rio Doce. Descanse em paz!




Doce Rio Doce
De águas límpidas e serenas
Templo profanado
Pela massa impura.
Dorme, dorme sereno
Em seu tumulo de lama



Sinal dos tempos? Quando poderíamos imaginar que estaríamos, um dia, prestando homenagens póstumas a um rio?
Pois não é que este dia chegou. E com este dia, quando assistimos com todas as cores, sons e letras que a tecnologia nos permite, a morte em lenta agonia de todo um sistema ecológico          em seu leito e em seu entorno, não podemos deixar de ser acossado em nossas mais intimas convicções por algumas questões que relegamos a segundo e terceiro planos em nossa agenda pessoal de prioridades.
Primeiro precisamos garantir o nosso custeio básico diário, as garantias para o futuro próximo, nossa qualidade e padrão de vida etc.
A preocupação com a ecologia não está em primeiro plano nas nossas preocupações diárias, a não ser que sejamos uma das centenas de famílias, ou milhares de vidas que foram diretamente atingidas por uma tragédia ecológica de menor ou maior magnitude.
Uma questão se destaca em primeiro plano neste evento de Mariana, que é afinal um dos grandes dilemas da nossa civilização: Como continuar produzindo o necessário para manter as populações da terra, com seu modelo de vida, provocando o menor dano possível á natureza?
Como garantir emprego, comida, saúde e moradia para bilhões de pessoas, da sociedade de consumo, com este modelo econômico e industrial que tem se mostrado em grande parte predatório e antiecológico?
A tragédia de Mariana oferece um cenário que pode se analisado em detalhes importantes e transposto para macro modelos como os países, os continentes, e para a Terra com um todo.
A mineração que garantia boa parte da economia de uma região por certo tempo, terminou em questão de dias por se tornar no coveiro e algoz de uma área muito maior que não se beneficiava aquela atividade econômica.
Depois que esta tragédia aconteceu, não é tarde demais admitir-se que não é sensato se acumular milhões de metros cúbicos de dejetos de mineração em um único local.
No Brasil existem hoje centenas de barragens do mesmo tipo que como bombas relógios, estão prontas para, ao capricho da natureza e da insensatez humana, se romper contra os sistemas ecológicos e toda a vida que depende deles.
Quem sabe não seria possível se transformar estes milhões de metros cúbicos de rejeitos em blocos de concreto que poderiam servir a outras atividades econômicas?
Outra questão que se levanta com força é a certeza de que a natureza é muito mais frágil e sensível a atividade predatória do homem do que imaginávamos em principio.
O Rio Doce está morto, pelo menos para esta geração. Precisamos crer que possa renascer amanhã, para nossos filhos e netos, quando a lição da tragédia, sendo bem assimilada nos induza a novos e mais racionais métodos de atividades econômicas e industriais.
Deus permita que o fato em si possa despertar em todos nós uma maior consciência ecológica, e que aprendamos a produzir e gerar riquezas respeitando-se os limites da natureza.
Hoje foi um rio, que para a vida que abundava em sua extensão representou o fim do mundo. Amanhã pode ser a vez do planeta Terra.