Doce Rio Doce
De águas límpidas e serenas
Templo profanado
Pela massa impura.
Dorme, dorme sereno
Em seu tumulo de lama
Sinal
dos tempos? Quando poderíamos imaginar que estaríamos, um dia, prestando
homenagens póstumas a um rio?
Pois
não é que este dia chegou. E com este dia, quando assistimos com todas as
cores, sons e letras que a tecnologia nos permite, a morte em lenta agonia de
todo um sistema ecológico em seu
leito e em seu entorno, não podemos deixar de ser acossado em nossas mais
intimas convicções por algumas questões que relegamos a segundo e terceiro
planos em nossa agenda pessoal de prioridades.
Primeiro
precisamos garantir o nosso custeio básico diário, as garantias para o futuro
próximo, nossa qualidade e padrão de vida etc.
A
preocupação com a ecologia não está em primeiro plano nas nossas preocupações
diárias, a não ser que sejamos uma das centenas de famílias, ou milhares de
vidas que foram diretamente atingidas por uma tragédia ecológica de menor ou
maior magnitude.
Uma
questão se destaca em primeiro plano neste evento de Mariana, que é afinal um
dos grandes dilemas da nossa civilização: Como continuar produzindo o
necessário para manter as populações da terra, com seu modelo de vida,
provocando o menor dano possível á natureza?
Como
garantir emprego, comida, saúde e moradia para bilhões de pessoas, da sociedade
de consumo, com este modelo econômico e industrial que tem se mostrado em
grande parte predatório e antiecológico?
A
tragédia de Mariana oferece um cenário que pode se analisado em detalhes importantes
e transposto para macro modelos como os países, os continentes, e para a Terra
com um todo.
A
mineração que garantia boa parte da economia de uma região por certo tempo,
terminou em questão de dias por se tornar no coveiro e algoz de uma área muito
maior que não se beneficiava aquela atividade econômica.
Depois
que esta tragédia aconteceu, não é tarde demais admitir-se que não é sensato se
acumular milhões de metros cúbicos de dejetos de mineração em um único local.
No
Brasil existem hoje centenas de barragens do mesmo tipo que como bombas
relógios, estão prontas para, ao capricho da natureza e da insensatez humana,
se romper contra os sistemas ecológicos e toda a vida que depende deles.
Quem
sabe não seria possível se transformar estes milhões de metros cúbicos de
rejeitos em blocos de concreto que poderiam servir a outras atividades
econômicas?
Outra
questão que se levanta com força é a certeza de que a natureza é muito mais
frágil e sensível a atividade predatória do homem do que imaginávamos em
principio.
O Rio
Doce está morto, pelo menos para esta geração. Precisamos crer que possa
renascer amanhã, para nossos filhos e netos, quando a lição da tragédia, sendo
bem assimilada nos induza a novos e mais racionais métodos de atividades
econômicas e industriais.
Deus
permita que o fato em si possa despertar em todos nós uma maior consciência
ecológica, e que aprendamos a produzir e gerar riquezas respeitando-se os
limites da natureza.
Hoje
foi um rio, que para a vida que abundava em sua extensão representou o fim do
mundo. Amanhã pode ser a vez do planeta Terra.