A história do escritor independente – isto é, sem editora – John Locke, publicada esta semana pelo “Los Angeles Times” (em inglês, acesso gratuito), é um interessante caso de sucesso no mundo dos e-books. Um mundo que, se no Brasil ainda cabe numa xícara, nos EUA já desenha uma paisagem de contornos vastos e cada vez menos nebulosos. Vale a pena conhecer o caso porque, mais cedo ou mais tarde, suas lições poderão ser aplicadas aqui.
As duas questões fundamentais levantadas pela história são: Quanto pode ou deve custar um e-book? E que percentual desse valor deve caber ao autor, que no mercado editorial convencional leva em torno de 10%?
Com uma série de thrillers de mistério, Locke acaba de entrar para o clube dos escritores independentes com mais de um milhão de downloads na livraria virtual Amazon. Isso significa que mais de um milhão de proprietários do leitor eletrônico Kindle, que pertence à Amazon, compraram seus livros. Pagaram por cada um deles o preço quase simbólico de 0,99 cents – cerca de R$ 1,60.
Ah, mas assim é fácil vender tanto? Não, não é. A maior parte dos escritores autopublicados não vende nem mil livros.
Além de seus prováveis méritos autorais, Locke levou uma vantagem de saída ao optar pelo preço mínimo admitido pelo Kindle Direct Publishing, divisão de autopublicação da empresa. A política da casa permite ao próprio autor fixar o preço, mas tem uma particularidade: se ele quiser levar a fatia máxima de direitos autorais prevista no acordo, ou seja, 70%, o valor de venda do livro deve ficar entre 2,99 e 9,99 dólares. Qualquer preço abaixo ou acima disso rende a metade dos royalties – 35%.
Tal arquitetura de preços tem o claro intuito de balizar os preços dos e-books, uma das incógnitas que ainda cercam esse mercado, atuando em duas frentes: numa delas, combate a inflação; na outra, inibe o dumping.
O fato é que Locke optou por uma estratégia de preço mínimo, próxima do dumping, e teve sucesso. Ou não teve? Pela marca de um milhão de livros, faturou apenas 346 mil dólares. Se os produtos custassem dois dólares a mais, seu faturamento ficaria acima de 2 milhões de dólares.
Parece óbvio que, nesse caso, Locke não venderia tanto. Mas se considerarmos que, na faixa de remuneração máxima, um quinto de seu sucesso comercial já lhe deixaria os bolsos mais recheados, é justo especular se ele fez um bom negócio. Há controvérsia. O certo é que Locke teria perdido a chance de escrever um novo livro sobre a experiência, este à venda na Amazon por 4,99 dólares, chamado “Como vendi 1 milhão de e-books em cinco meses!”. Sim, com exclamação.
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