13 de mar. de 2012

Tecnologia versus humanidade


Vivemos em uma sociedade altamente tecnológica. Nenhuma outra civilização atingiu tal desenvolvimento no aspecto científico, e os visionários e futuristas vão sendo ultrapassados em suas previsões, pela mais pura realidade que avança inexorável. Sonhar ou imaginar os próximos passos do Homem vai se tornando um exercício impraticável, como se nossas realizações, tendo se aproximado de seu ápice, não nos deixassem mais margem para tal.

Antes da revolução industrial chegou-se à certeza de que nada mais havia para ser inventado, e que nossa capacidade de criar havia se esgotado. Logo a seguir, novas descobertas nos lançaram em um novo e admirável mundo que Aldous Huxley previu parcialmente, e se descortina diante de um ser abobalhado com a própria capacidade. Mecatrônica, inteligência artificial, infovias, clonagem, rapidamente nos familiarizamos com novos conceitos gerados nesta estufa da sociedade tecnológica e este esforço de enxergar além da névoa que nos separa do futuro é quase que inútil, porque o futuro e presente começam a se fundir como se sonho e realidade caminhassem lado a lado e o homem-realizador deixasse cada vez mais para trás o homem-ficcionista e sonhador.

Estaríamos novamente naquele impasse de “chegamos ao nosso limite”? Talvez uma encruzilhada do tempo onde a Humanidade precise se decidir sobre que caminho tomar? Esta geração altamente desenvolvida e tecnológica, preparada desde o seu nascimento para a competição de mundo globalizado, paradoxalmente vive num crescente retardamento em seu aspecto humano.

Um torpor existencial ofusca a vista emocional do Homem, seus sentimentos vão sendo substituídos por movimentos mecanizados e eficientes, herança das máquinas que criamos e que agora nos escravizam de um lado e ditam as novas regras desta corrida de outro. A “Matrix” já pode estar ensaiando seus primeiros passos como um novo ser artificial prodígio que, gerado nos seios de uma mãe virtual, apresenta-se como o comandante de uma nova raça que veio para dominar o homem-sonâmbulo.

O ser cerebral, eficiente, competitivo, é o resultado destas experiências bem sucedidas nos laboratórios da nova ciência. Como clones desprovidos de sentimentos e emoções, preparam-se para comandar a nova etapa da evolução humana, como último processo antes da derrocada final. A falta de humanidade já produziu antes a destruição de outros impérios e isto aconteceu após a chegada ao seu ápice. Nunca se viu na História da civilização fórmula tão destrutiva como a nossa, tão alta tecnologia associada à total falta de humanidade.

As máquinas de guerra e destruição lançam seus inseticidas contra colônias de insetos humanos que chegaram ao fundo do fosso da degradação. Os senhores da guerra tecnológica partem para a desinfecção final contra a massa disforme de vermes humanos que adubarão os novos desertos, mais um produto do desrespeito do Homem contra si mesmo. Quem consegue sonhar diante destas paisagens funestas? Como se ter esperança no porvir quando sabemos que quem comanda nosso destino é este mutante perverso? Um ser altamente tecnológico e desprovido de valores humanos já caminha sobre a terra árida e seca como um orgulhoso conquistador de uma era inglória.

Há esperanças para o Homem? Talvez sim, talvez não. A última resistência vem sendo organizada por um grupo de guerrilheiros do pensamento. Os esquadrões de sonhadores, os pelotões de idealistas, os comandos de ultrapassados poetas, mal nutridos e mal equipados, preparam-se para o embate final e definitivo entre as duas civilizações, a tecnológica de um lado e a humana de outro. O resultado desta batalha é mais uma tarefa para ser intermediada pelo “Senhor do Tempo’’.

João Drummond