1 de dez. de 2010

Livro Sob Demanda - A Revolução Digital

Revolução digital


Por Rodrigo Rodrigues

Método pode movimentar até R$ 2 bilhões nos próximos anos gerando um novo modelo de negócios

Enquanto o mundo editorial volta seus olhos para o lançamento do Kindle, o aparelho portátil da Amazon.com que permite a leitura de livros em formato digital, outra revolução mais imediata já está em curso há quase dois anos no Brasil: a impressão de livros sob demanda. Ao contrário do método offset de produção de livros, a impressão digital on demand, como é chamada no exterior, possibilita a impressão de baixíssimos lotes, gerando a quantidade mínima de um único exemplar, se necessário. Um objeto de desejo para amantes de edições raras ou presentes especiais. Um livro com dedicatória impressa, impensável até ontem, já é realidade.
Apresentada ao mundo pela primeira vez em 1993, na feira gráfica internacional Ipex, na Inglaterra, a impressão digital sob demanda se tornou sinônimo de economia para editoras e livrarias em diversas partes do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, a impressão por encomenda cresceu 132% no ano passado, superando pela primeira vez os métodos convencionais do mercado, segundo a revista norte-americana Publishers Weekly. Na Europa, o método já corresponde a mais da metade de toda a produção editorial de países como França, Alemanha ou Itália.

A impressão sob demanda traz uma economia substancial para a cadeia de produção de livros no Brasil, que sempre penou com os custos de impressão dos títulos de pouco apelo comercial. No modelo atual de impressão, por meio das máquinas offset, as editoras são obrigadas a imprimir o mínimo de oitocentos exemplares, que são estocados em depósitos até a venda do último exemplar. "É um modelo que empata o capital de giro das empresas e aumenta, exponencialmente, o risco de perdas com o encalhe nas prateleiras", conta Clineu Stefani, diretor comercial da gráfica Bandeirantes.

Segundo o executivo, 70% de todos os títulos produzidos no Brasil têm o potencial de migração para o sistema. São livros de média e baixa vendagem que, muitas vezes, se perdem nos estoques por problemas de umidade, envelhecimento do papel, traças e outras ações do tempo. O mercado de impressão sob demanda pode movimentar anualmente mais de 180 milhões de exemplares no Brasil, que significa quase R$ 2 bilhões em receitas.

Por conta dessas cifras astronômicas, a Bandeirantes investiu mais de R$ 3 milhões na aquisição de um parque gráfico digital, que já fabrica cerca de 60 mil exemplares únicos mensais. "É uma fórmula que reduz a zero os riscos das editoras e possibilita a ampliação vertiginosa do catálogo das empresas", afirma Clineu Stefani.
Atenta às transformações vivenciadas pelo mercado e de olho em novas oportunidades de negócio, o grupo Ediouro criou, no ano passado, uma empresa exclusiva para impressão sob demanda. Com capacidade de imprimir até 250 mil exemplares únicos mensais, a Singular, como foi chamada, é responsável por mais de 10 mil títulos que compõem o acervo digital do grupo. O principal objetivo da empresa é resgatar publicações já esgotadas no mercado, que agora podem ter a impressão de um único exemplar, feito de um dia para o outro. "É uma tecnologia que elimina a perda de vendas pelo esgotamento das edições e possibilita que os consumidores tenham acesso às obras que há muito tempo só eram encontradas em sebos", conta o diretor geral da Singular, Newton Neto.

Fator internet

A Singular também é responsável pela publicação de selos próprios como o Blogbooks. A coleção é baseada em blogs famosos como o Kibeloco, Vi o Mundo e Dinheirama, que passaram da blogosfera para as páginas de papel. São doze títulos que a empresa lança, ainda esse ano, e que poderão ser comprados pelo site da editora ou nas principais livrarias do país. "O método de impressão sob demanda nos dá uma capacidade infinita de lançamento de títulos e autores, sem preocupações orçamentárias. A idéia é fazer parceria com outras editoras do Brasil e do mundo para impressão de livros esgotados e co-edições em conjunto com universidades e instituições acadêmicas", conta Neto.

A internet também é a principal arma da Gráfica Bandeirantes. Pelo site bandbook.com. br, a empresa fez acordos com várias editoras para a publicação de números esgotados. A intenção do portal Bandbook é justamente ampliar essas parcerias com as universidades e editoras de pequeno e médio portes, para o resgate das obras já esgotadas. Já a Ediouro assinou um contrato com a Amazon para disponibilizar seus cerca de 200 mil títulos em formato download (e-book) e impressão on demand nos Estados Unidos. "A intenção é eliminar os custos de frete e garantir que o produto chegue rapidamente ao consumidor", conta o diretor geral da Singular.

A Ediouro também fechou uma parceria com a Wikipédia e tornou-se a gráfica oficial da enciclopédia virtual no Brasil, que passa a oferecer a opção de transformar seu conteúdo em livros. No sistema da Wikipédia, qualquer usuário da página pode escolher os assuntos e verbetes que deseja publicar. Fazendo tudo em tempo real, ele escolhe o nome, o autor e a capa da publicação. Após o pagamento com cartão, o internauta recebe em casa o livro que ele mesmo criou no prazo de até sete dias úteis. Com mais de 500 mil verbetes e cinco milhões de acessos no Brasil, a parceria entre Wikipédia e Ediouro tem um enorme potencial para alavancar a cultura do livro próprio no país. "É mais uma das infinitas portas que a impressão digital abre para o mercado livreiro", comemora Newton Neto.

Boas perspectivas



A editora Annablume, especializada em publicações técnicas e acadêmicas, também enxerga grande
oportunidades de crescimento com a impressão digital. A empresa já conta com um catálogo de 1052 títulos
disponíveis no site da empresa para venda. Anualmente, a editora lança cerca de 100 novos títulos e vê na impressão digital a possibilidade de dobrar esse número. "Dez anos atrás, as pequenas editoras perdiam oportunidades de negócio porque as gráficas não se interessavam em imprimir projetos menores", lembra o diretor José Roberto Barreto. "O desafio dos empresários, agora, deixa de ser a impressão e passa a ser a divulgação e reposição dos produtos nos pontos de venda", completa. Segundo o diretor da Singular, uma única máquina de impressão colorida pode custar até US$ 600 mil. "No curto prazo, o benefício ao consumidor é apenas o da oferta de títulos. Porém, à medida que as empresas forem adotando, de fato, o novo método, a economia com os processos logísticos de larga escala poderão ser repassados ao consumidor", afirma Newton Neto.

Para o diretor da Annablume, o ganho das editoras só se reverterá em benefício ao consumidor na venda direta pela internet. "Como não existe uma livraria intermediando a venda, as editoras conseguirão praticar um preço menor", afirma Barreto. Os best sellers e livros escolares, aponta, continuarão sendo impressos no modelo convencional, porque são vendidos em grande escala e a produção offset é mais barata para as editoras.

Nos cálculos da Gráfica Bandeirantes, pelo menos 30% dos títulos produzidos no Brasil continuarão adotando o método atual de impressão. "O modelo digital só servirá aos best sellers no momento de reposição rápida de estoques, para que não haja perda de vendas. Mesmo assim, esse processo pode ser considerado revolucionário, porque nunca mais o consumidor sofrerá com a falta de um título no mercado", prevê Clineu Stefani, da Bandeirantes. Para saber mais sobre as empresas que oferecem impressão de livros sob demanda, acesse os sites www.bandbook.com.br, da Gráfica Bandeirantes; www, da Ediouro.com. br; www.annablume.com.br, da Editora Annablume.

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