Quais livros prejudicaram, em vez de ajudar a
humanidade?
Teóricos equivocados podem causar grandes prejuízos.
Já tivemos livros que incentivavam a matança de mulheres consideradas bruxas,
defendiam a inferioridade de certas nacionalidades, diziam que as mulheres eram
menos inteligentes que os homens. Com a ajuda de historiadores, listamos sete
livros que, por causa de teorias equivocadas, inspiraram pessoas a cometer atos
e sustentar idéias desastrosas.
Os livros não estão em nenhuma ordem particular e, é
claro, foi impossível listar todos eles. Clique em Continue lendo..
1- “L’uomo delinqüente” (O homem delinquente), Cesare
Lombroso, 1876
O médico e cientista italiano Cesare Lombroso defende,
nesse livro, a teoria de que certas pessoas nasceram para ser criminosas e que
isso é determinado por características físicas, como nariz adunco e testa fina,
traços típicos dos judeus. A obra fez muito sucesso e influenciou o direito
penal no mundo todo. Mas o problema maior foi que a obra também reforçou várias
teorias racistas – principalmente o anti-semitismo nazista. O detalhe é que o
próprio autor era judeu e sua intenção era simplesmente ajudar a ciência penal
e jurídica. Atualmente, a teoria caiu no descrédito. Mas, mesmo assim, ainda há
quem a defenda (sempre tem, né?).
2- “Mein Kampf” (Minha Luta), Adolf Hitler, 1925
O livro de Hitler tem, na verdade, dois volumes. O primeiro foi escrito
quando ele tinha 35 anos e estava preso por causa de uma tentativa de golpe de
estado mal-sucedida. O segundo, inédito no Brasil, foi escrito já fora da
prisão. O livro se destacou pelo racismo e anti-semitismo do autor, que via o
judaísmo e o comunismo como grandes males e ameaças do mundo – o autor
pretendia erradicar ambos da face da terra. A obra revela o desejo de
transformar a Alemanha num novo tipo de Estado que abrigasse a raça pura ariana
e que o tivesse como um líder de grandes poderes. Era um aviso para o mundo,
mas na época ninguém de fora da Alemanha deu muita bola. Mein Kampf ainda hoje
influencia os neonazistas
3- “A inferioridade intelectual da mulher”, Carl
Moebius, século 19. Sem tradução para o português.
Psicólogo influente em meados do século 19, Moebius
escreveu esse livro seguindo idéias já bastante disseminadas desde a época de
Platão e Aristóteles e defendia a inferioridade feminina e a restrição dos seus
direitos. Usando pesquisas e tabelas pseudo-científicas, ele comparou o
desempenho feminino em determinadas áreas intelectuais quando em disputa com
homens (em um teste parecido com o vestibular de hoje). Pensadores
antifeministas citavam essa obra para apoiar teses de que as mulheres não
deveriam ter uma série de direitos por serem “inferiores intelectualmente”.
4- “O martelo das bruxas” ou “Malleus Maleficarum”,
Jacob Sprenger, 1485
Manual de caça às bruxas que levou muita gente à
fogueira, o livro foi muito influente entre as igrejas católica e protestante.
Jacob Sprenger indicou uma série de procedimentos para a identificação das
bruxas: se a mulher tivesse uma convivência maior com gatos, por exemplo, já
era suspeita. A obra foi responsável por quase 150 anos de matança
indiscriminada de mulheres. A onda só passou depois que o método científico
começou a prevalecer sobre a crença religiosa cega, a partir da publicação dos
estudos de Isaac Newton. Com o pessoal discutindo assuntos científicos, pegava
mal ficar caçando bruxa.
5- “Essai sur l’inégalité des races humaines” (Ensaio
sobre a desigualdade das raças humanas), Joseph Gobineau, 1855
O livro do cientista social Gobineau virou referência
obrigatória para aqueles que defendem a superioridade de algumas raças sobre as
outras. O autor desempenhou por um bom tempo cargo diplomático na corte de D.
Pedro II e achava o Brasil “uó” por ter tanta miscigenação. Segundo ele, a
miscigenação degenera as sociedades porque piora as supostas limitações das
raças inferiores (as não-brancas, para ele). A obra passou a ser usada para
sustentar a legitimidade do tráfico negreiro. Sua tese foi tão aceita que até
hoje existem alguns cientistas que mantém a crença na superioridade de algumas
raças.
6- “The Man Versus the State” (O Indivíduo Contra o
Estado), Herbert Spencer, 1884
Embora alguns digam que essa é uma leitura injusta do
livro, ele foi utilizado para a defesa do capitalismo selvagem no século 19,
principalmente nos EUA. Spencer defende que, assim como ocorre na natureza, nas
sociedades humanas também prevalecem os mais aptos. Isso quer dizer que os
ricos e poderosos são assim porque estão mais preparados que os pobres. O livro
passou a ser usado, então, para justificar a falta de ética nas relações
comerciais, com a destruição implacável da concorrência, a busca incessante por
riquezas e o pouco caso com os pobres.
7- The Seduction of
the Innocent (“A sedução dos inocentes”), Frederic Wertham, 1954
Ok que o livro não gerou nenhuma atrocidade, mas
ajudou a disseminar idéias equivocadas a respeito de uma coisa que a gente
gosta: quadrinhos. No livro, o psiquiatra alemão-americano Werthan forjou
argumentos para atribuir às HQs o papel de culpadas por casos de delinquência,
abandono dos estudos e homossexualidade entre crianças e adolescentes. O livro
foi lançado numa época em que as HQs eram um dos gêneros de leitura mais
consumidos nos EUA e até o governo pensou em proibi-los (naquele tempo, rolava
uma preocupação imensa nos EUA de que os jovens estivessem sendo corrompidos por
idéias comunistas). Para evitar isso, as editoras lançaram o Comics Code
Authority – um código de autocensura que ainda existe e que seria um indicativo
de que o material publicado não iria degenerar os jovens.
* Não incluímos livros mal interpretados, “tsá”?
Não incluímos nessa lista os livros que foram
simplesmente mal interpretados. A Bíblia é um exemplo disso. O historiador da
UNESP Jézio Gutierre acha que o caso com “O Capital”, de Karl Marx, também tem
a ver com interpretações equivocadas. “Esse livro é um grito ético humanista e
tem todas as características para ser um livro anti-atrocidade”, explica. Para
ele, portanto, não se pode atribuir a essa obra os massacres que governantes
socialistas promoveram.
** Fonte 1: Lincoln Ferreira Secco (USP), Jézio
Hernani Bomfim Gutierre (UNESP), Márcio dos Santos Rodrigues (UFMG), Adriana
Romeiro (UFMG
Fonte 2:
http://destaknovalondrina.webnode.com.pt/news/a7-livros-que-ferraram-a-humanidade-ou-quase-/
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