Romance na terceira idade
Na
semana passada estava entrando num banco para ver se tinha restado algum
trocado, até o dia da "viúva" (INSS) fazer o depósito. Foi quando uma
linda garota de uns quarenta anos, minissaia, entrou na fila dos caixas,
imediatamente saí da fila dos idosos e também entrei na mesma fila.
Em
pouco tempo ela olhou para trás e sorrindo disse:
-
Porque o senhor não utiliza a fila dos idosos?
Você
sabe para que lugar eu tive vontade de mandá-la, não é?
Porém,
mantive a calma e usei toda minha experiência. Puxei papo e resolvi inventar,
para impressionar. Falei das minhas "experiências como comandante de navio
de cruzeiro" Semana passada havia lido um livro sobre um comandante de
navio de turismo. Sabia tudo a respeito.
-
Uau! O senhor foi comandante de transatlântico?
-
Só por vinte e dois anos.
Respondi
expressando uma certa indiferença pelos anos de trabalho, mas sentindo que
tinha capturado a presa, era só abater e comer.
-
Nossa!!!! E com essa sua pinta o senhor deveria, certamente, agradar muito o
público feminino, nas noites de jantar com o comandante.
Boquiaberto
só pude responder:
-
Hã? - distraído que estava de olho fixo no decote da jovem, que exibia,
exuberantemente, seus lindos seios.
Ela
me pegou no flagra. Eu sem graça, e ela não fez por menos!
-
O senhor ficou vermelho! Ficou até mais bonito. Aliás, o senhor deveria fazer
um teste na televisão.
Eu
estava perplexo e apavorado, depois dos sessenta, isto acontece uma só vez
antes da morte. Aquele avião pronto para decolar e eu sem condições nem mesmo
de efetuar o check in. Sim, não sabia ao certo quanto teria na conta
corrente... Quanto estaria custando um Viagra? ... Onde poderia arrumar
duzentão, até o dia do depósito da "viúva"? ... Quanto estariam
cobrando um apê no motel?
Será
que se chamar um táxi pega bem? Comecei a suar frio.
-
Eu, artista de televisão?
-
Sim! O senhor lembra aquele famoso galã dos anos cinqüenta, que minha avó me
mostrou na revista "Rainha do Rádio". Ela tem verdadeira paixão por
essas revistas. Adorava Marlene, Emilinha Borba... Deus nos livre de alguém
mexer nas suas revistas. Ela guarda a sete chaves, com o maior carinho. O
senhor é saudosista também?
-
Sim! Mas, você ta me gozando. Galã dos anos cinqüenta?
-
Verdade... Não me lembro bem o nome, só sei que ele fazia filmes para o cinema,
era muito famoso. Ma.. Mário, não era. Era alguma coisa como... Ah sim, tinha
dois “Z” no nome.
-
Mário Gomezz (apelei)?
-
Não, não era este o nome. Ahhh
lembrei... Mazzaropi? Isto Mazzaropi! Mazzaropi era um galã, não era?
Nesta
hora minha auto-estima fez um buraco no chão e foi parar na terra do sol
nascente.
Pô,
quando ela disse que eu parecia galã dos anos cinqüenta, pensei num Paulo
Gracindo, Paulo Autran, ou algum Antonio Fagundes da vida. Mas, Mazzaropi?
...PQP! Mas, até aí tudo bem, para pegar aquele avião eu ia de Mazzaropi mesmo.
O
meu fabuloso programa da tarde só veio a acabar, quando ela incautamente,
derrubou um livro que tinha na mão. Eu, como um verdadeiro cavalheiro, inventei
de abaixar para apanhá-lo. Só que esqueci as recomendações do meu ortopedista
sobre minhas artroses e artrites, que quando eu me abaixasse, o fizesse de uma
forma bem vagarosa.
Enquanto
o livro descia, eu mais que depressa, inventei de pegá-lo na altura dos joelhos
desnudos da jovem. Só escutei a frase dela:
-Uau!
Que reflexo - você parece um garotão!"
Ouvi
esta frase, e mais dois sons. Um som abafado da região da minha coluna que
travou no ato, e o som estridente de um prolongado peido, que além de sinalizar
a frouxidão do rabo, lembrou-me da intensa dor na coluna. E quem disse que eu
conseguia endireitar o corpo, nem chamando o Carvalhão.
Arcado,
tentava me endireitar e peidava. Tentava, e novamente peidava. Pô, o pior, que
há pouco tinha almoçado num restaurante alemão. Imagina o odor?
A
jovem vendo que a situação não reverteria, tirou os dois dedos que apertavam
suas narinas, apanhou o celular e discou para o SAMU. Fim de um provável
romance...
Você
tá rindo por que não foi com você!!!
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