O livro “1808” de Laurentino Gomes traz uma temática, em principio
pouco interessante ao leigo, por tratar da historia do Brasil colônia e sua
relação com Portugal na época de sua colonização.
Familiarizamo-nos com estes temas desde os tempos de criança,
quando a historia oficial, com sua linguagem formal e acadêmica, aplicava sobre
os fatos e eventos seu vôo panorâmico, nos relatando uma realidade distante e
completamente dissociada no momento atual.
A grande novidade do livro é sua linguagem jornalística clara
e acessível, que torna o enredo interessante e de fácil leitura e compreensão. Laurentino
Gomes, vai muito alem da visão geral da historia, mergulhando em seus meandros
e trazendo detalhes que podem (como o são realmente), serem questionados, pelas
dificuldades de sua comprovação.
A riqueza de detalhes e a preocupação do autor com dados estatísticos
formam um quadro bastante sensato e crível, que liga o nosso passado como
nação, ao presente, nos levando a uma compreensão razoável do momento em que
vivemos.
Pode não agradar aos pesquisadores da historia e acadêmicos, mas
atinge em cheio ao gosto e interesse do grande público, traduzido na sua alta
aceitação e vendagem.
As criticas de que o livro tem interesse midiático e foi
alavancado nas vendas pelas técnicas de marketing, em minha opinião, não
procedem. O livro vende porque agrada ao público e nenhum especialista em historia
pode contestar isto, e impor suas verdades acadêmicas, numa tentativa ridícula de
tutela intelectual da opinião publica.
Outra critica que emerge dos porões da ditadura intelectual é
de que o autor teria inventado muitos dos fatos relatados na obra, por não
haver registro deles em nenhum outro livro sério de historia do Brasil.
Ora pois que a história não é constituída de fatos concretos,
absolutos, imutáveis, estando ela na categoria de ciências humanas e não da ciência
exatas. A Historia só pode percebida e relatada sobre o prisma do observador,
quando os fatos e eventos interagem com seu universo de conhecimentos e valores
e é analisada sobre o crivo de sua consciência.
Tanto isto verdade que a historia é constantemente revista,
sob novos ângulos e parâmetros, quando pensadores e cientistas políticos mais
ousados, e menos tradicionalistas lançam sobre ela novas alternativas que
melhor explicam o quebra cabeça do passado.
A Historia ganha então novas dimensões e o papel de seus
protagonistas se altera no contexto geral, trazendo para o presente uma linha
mais lógica e factível no universo de nossa compreensão.
Entendemos melhor porque o Brasil, nossa sociedade e nossa política
são o que são nos dias atuais.
Os personagens que foram registrados pela Historia oficial
como figuras sobre-humanas, estereotipadas, recuperam sua condição de simples
mortais em eventos muitas vezes banais, no entanto, superdimensionados pelos
anais da historia oficial.
De outro lado, fatos que passaram despercebidos e ao qual se
deu pouca importância, explicam de maneira clara o modelo atual da nossa
sociedade e suas instituições.
De forma nenhuma se pode atribuir ao autor a critica de que
sua obra trata Portugal e o Brasil colônia de forma degradante e difamatória,
ao trazer para o nível da realidade humana fatos e personagens que foram retratados
oficialmente de forma caricata e estereotipada.
Estas são impressões de um leitor, que lançando sobre a obra
sua visão relativa não carrega sobre ela nenhum interesse de cunho pessoal ou
financeiro se reservando, como é de direito de qualquer cidadão expor, sem tendência,
sua mais sincera opinião.
Acho que é um livro que compensa ser lido, não apenas como
peça histórica, mas como obra política e social, que nos torna mais aptos a
intervir como cidadãos em nossa realidade presente.
João
Drummond
Nenhum comentário:
Postar um comentário