O
primeiro ato de manifestação da nossa individualidade é sem duvida a fala. E nossas
primeiras falas têm como objetivo maior exercitar esta individualidade e
estabelecer os primeiros laços como seres sociais.
As
primeiras expressões de um bebê, (gugu, dadá), não tem significado em nenhum dicionário,
mas é compreendido como a forma que ele tem de exercitar e tornar eficaz seu
complexo sistema fono-auditivo.
Neste
momento também, os pais orgulhosos, manifestam em reações emocionais, seu
apreço pelo ser que chegou e busca seu espaço social. Dão-lhe a primeira
acolhida fora do útero materno.
Há
quem acredite que o mundo que conhecemos e vivemos surgiu a partir de um “Faça-se”,
como uma ordem primordial e definitiva, de alguma entidade ou energia de nível superior
e desconhecida. A idéia da criação como conseqüência de um acidente atmosférico é
de mais difícil aceitação.
Do
ponto de vista da criança que nasce o primeiro suspiro e as primeiras
expressões emitidas torna extinta a entidade dependente e coligada, e dá vida
ao individuo, claro que com suas conhecidas limitações.
O
“Faça-se” a partir de uma energia qualificada tem poder de criação, mas para nós,
criaturas, estas falas, lançadas ao vento, promovem um efeito instantâneo e
imediato, podendo depois se perder se não forem preservadas de alguma forma.
É
ai que entra a escrita. Diz-se que Deus escreve certo por linhas tortas, atribuindo
a ele a condição de autor, o grande autor da criação, sem nos atermos aos méritos,
no que se refere a doutrinas dogmáticas ou de agremiações religiosas.
Também
nós quando escrevemos, forjando em espaço físico elementos gráficos representativos
de nossas falas, damos vida eterna às palavras.
E
as palavras escritas, a exemplo do “Faça-se” divino é um esboço ou uma ordem de
uma realidade futura. Esboça-se em palavras todo o universo criado pelo autor,
em um mundo paralelo que ganha vida, expandido de uma realidade conhecida para
outra até então estranha e indevassável.
Vamos
então, corajosamente, onde nenhum homem jamais esteve, quando a ficção projeta possibilidades
alem do piso de realidade, que como um chão firme de convicções e crenças,
enreda-nos em cidadelas, aparentemente inexpugnáveis.
E
esta realidade se desfaz em nuvens, expandindo nossos universos, ampliando
nossas consciências. Nestas horas somos como que deuses. Pela escrita nos
tornamos deuses dos mundos que criamos, (ou talvez, demônios?)
Podemos
ser deuses ou demônios, depende dos valores que carregamos no ato. Pensamentos,
palavras, escritas: nesta ordem nossas intenções saem do plano imaginário e
invadem o mundo da realidade, alterando sua estrutura, gerando soluções ou tragédias.
Com
co-participe da criação a responsabilidade um autor se torna evidente, já que
suas palavras escritas transportam e preservam valores, que podem dar vida a
mundos prósperos ou a infernos devastados.
Persiste
a crença de que a escrita seja dom, ou uma qualidade que o autor recebe
para exercer sua missão de vida. Prefiro crer que a escrita seja mais uma de
muitas tendências, que como sementes depositadas no útero da consciência podem
germinar ou não. Depende muito daquilo que o livre arbítrio nos faculta como escolhas
fundamentais. Resumindo todos nós nascemos potencialmente com este e outros
dons. Se vamos desenvolvê-lo, isto já é
outra historia.
João Drummond
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